Kundalinî - Luz

“Embora a palavra portuguesa luz pareça derivar do latim lucem ou lux, podemos aproximá-la da palavra hebraica Luz. (…)
Luz situa-se na extremidade inferior da coluna vertebral, o que pode tornar-se claro referindo o que a tradição indiana diz sobre essa força chamada Kundalinî que é uma forma de Shakti (ou Shakinah), imanente do ser humano. Representa-se Kundalinî como uma serpente enrolada sobre si própria, numa região do organismo subtil correspondente à extremidade inferior da coluna vertebral; acontece assim, pelo menos, no homem normal; todavia, por efeito de práticas tais como as do Hatha-Yoga, a serpente acorda, desdobra-se e eleva-se através das rodas ou lotus, que correspondem aos diversos plexos, até atingir a região do olho frontal de Shiva. Este estádio equivale à reintegração no “estado primordial” no qual o homem recupera o “sentido da eternidade”, obtendo a imortalidade virtual. Permanece, todavia, no estado humano; numa fase ulterior Kundalinî atinge por fim a coroa da cabeça, o que significa a definitiva acessão aos graus superiores do ser.” (in O Rei do Mundo de René Guénon) (…)
“As cinco chagas, que se representam duas vezes no Claustro dos Jerónimos, devem corresponder às rodas ou Lotus, não devendo ser apenas motivos ornamentais. (…) É impressionante a semelhança fonética de chakras, a palavra sânscrita que significa rodas, com chagas. (…) A dupla presença das cinco chagas constitui o sinal de que nesse símbolo reside a chave de todo o processo iniciático. (…)
O iniciado é um homem austero, cujas palavras, pensamentos e actos reflectem a paz profunda, a Pax Profunda, que os Anjos anunciaram aos homens de boa vontade. Não é possível encontrá-lo, a não ser que se seja um seu igual. Recolhe-se no centro de si próprio, está onde não está, morre ou vive conforme queira e também ele está guardado pela mão poderosa do Único, que preside aos destinos do mundo.”

Excertos de “História Secreta de Portugal” de António Telmo, 1977, Editorial Vega

O Fogo Interior - A auto-importância de Castaneda

A auto-importância é o nosso maior inimigo. Pense nisto, o que nos enfraquece é sentirmo-nos ofendidos pelos feitos e pelas desfeitas dos nossos semelhantes. A nossa auto-importância faz com que passemos a maior parte das nossas vidas ofendidos com alguém.
Os novos videntes recomendam que sejam envidados todos os esforços para afastar a auto-importância das vidas dos guerreiros.
A auto-importância não pode ser combatida com delicadezas e não é uma coisa simples e ingénua. Por um lado, é o centro de tudo o que há de bom em nós; por outro, é o centro de tudo o que não presta. Conseguir livrar-se da auto-importância que não presta requer uma estratégia fabulosa.
A impecabilidade é o uso apropriado da energia. Os guerreiros fazem inventários estratégicos que cobrem apenas padrões de comportamento que não são essenciais à sua sobrevivência e bem-estar, de modo a pouparem energia.
Nos inventários estratégicos, a auto-importância aparece como a actividade que consome mais energia e daí o esforço para a eliminar.
Uma das principais preocupações dos guerreiros é deixar fluir essa energia, de forma a poder enfrentar com ela tudo o que lhes é desconhecido, A acção de a praticar, para recanalizar essa energia, é a impecabilidade.
A estratégia mais eficaz é composta por 6 elementos que se conjugam entre si: controlo, disciplina, paciência, sentido de oportunidade, vontade, e o mais importante e pertencente ao mundo exterior, é chamado “pequeno tirano”.
Um pequeno tirano é um atormentador, alguém que tanto mantém o poder da vida e da morte sobre os guerreiros, como simplesmente os perturba até à distracção.
A utilização do pequeno tirano na estratégia não elimina só a auto-importância; prepara também os guerreiros para a compreensão final do que a impecabilidade é a única coisa, que de facto conta, no caminho do conhecimento.
O guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro cheio de sorte, porque se não encontrar um no seu caminho vai ter que o procurar. Pois nada tempera melhor o espírito do guerreiro do que o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posição de poder.
Os guerreiros poderão vencer o pequeno tirano libertando-se da auto-importância e da vitimização, e adquirindo os atributos: controlo e disciplina de si próprios, que se referem a um estado interior; e a paciência e sentido de oportunidade, que pertencem ao domínio do homem de conhecimento.
Qualquer pessoa que se associe aos pequenos tiranos é derrotada. Agir com raiva, sem controlo, nem disciplina, não ter paciência, isto é ser derrotado.

Resumo de parte do livro: Castaneda, Carlos, O Fogo Interior, Editorial Presença, 1984

Excertos de "A Cabala e a Tradição Judaica"

“Nós vivemos sobre a casca da realidade e mal sabemos atingir o coração” diz o Rabi Ben Jochai, porque “o segredo está no coração do aparente” e “o conhecido não é mais do que o aspecto aparente do desconhecido. É que nenhum facto do mundo está isolado do seu contexto universal. Nada cá em baixo tem um fim em si mesmo” (Zohar, III,128) e nós estamos inseridos num universo em patamares.
(…)
O pecado do homem, todo o desvio da lei de Deus no seu comportamento, atrasam o desenvolvimento do plano da Providência e, logo, a Redenção do mundo. O corpo de um recém-nascido não está dotado de uma alma nova, mas de uma outra que já conheceu uma ou várias migrações terrestres e que deve reincarnar para sua salvação. Deste modo o homem pecador obsta a que uma alma “nova” possa incarnar, o que seria a ordem normal das coisas; impede as almas de virem ao mundo de acordo com o seu destino e retarda a manifestação da alma do Messias.
Quando uma alma, por qualquer razão, se esquece de cumprir uma acção no mundo, deve voltar à Terra, entrar em união estreita com uma outra alma já incarnada e reparar o seu erro.
O Messias só pode vir, quando todas as almas tiverem limpo as suas manchas e o bem estiver inteiramente separado do mal, e a verdade do erro.
Vê-se assim até onde pode ir a responsabilidade de cada um com respeito ao seu próximo, e mesmo no que diz respeito a todo o Universo.
(…)
Há algo que só se pode encontrar num único sítio do mundo, e trata-se de um grande tesouro: podemos chamar-lhe a descoberta do sentido da existência. E o lugar onde podemos descobrir esse tesouro, é justamente no sítio onde nos encontramos.
A maior parte dos homens não se apercebem de que jamais tiveram a experiência de uma existência verdadeiramente realizada e que vivem, por assim dizer, à margem do essencial. Este essencial, nunca o procuramos no sítio onde o podemos de facto encontrar, isto é, no nosso próprio lugar. Ora, é precisamente aí, e em mais lado nenhum, que se encontra o tesouro. O meu ambiente natural, a situação que é providencialmente a minha, tudo o que me sucede dia após dia, designa a minha tarefa essencial e ensina-me, simultaneamente, onde se pode realizar a plenitude da minha existência.

Excertos de “A Cabala e a Tradição Judaica” de René de Tryon, Montalembert, Kurt Hruby, 1974, Edições 70

As minhas Verdades

Somos todos Um. Um dia de lá saímos e um dia lá chegaremos e seremos Um novamente.
Deus, Grande foco, Luz, Grande Arquitecto do Universo, Criador...o que lhe quiserem chamar.

O caminho é o da liberdade, individual, da busca e alargamento da consciência. Valor, Rectidão, Paz e Amor.

Só por hoje... e sempre

Monossílabo sagrado Om

“O Rei do Mundo” conhece os pensamentos de todos os que dirigem o destino da humanidade… conhece-lhes as intenções e as ideias. Este poder foi dado a Agharti pela ciência misteriosa de Om, palavra que inicia todas as nossas orações.
Om é o nome de um antigo santo, o primeiro dos Goros ou Gurus, que viveu há cerca de trezentos mil anos. Esta época é muito anterior à era do presente Manu. Por outro lado o primeiro Manu do nosso Kalpa (sendo Vaivaswata o sétimo) é chamado Swâyambhuva, “o que subsiste por si mesmo” ou Logos eterno. Ora, Logos pode ser designado como o primeiro dos Gurus ou “Mestres Espirituais”, sendo efectivamente Om um nome de Logos.
Este nome encontra-se também no antigo simbolismo cristão, sendo mais tarde considerado como uma abreviatura de Avé Maria, mas que foi primitivamente equivalente à reunião do letras extremas do alfabete grego, alpha e ôméga, para significar que o Verbo é o princípio e o fim de todas as coisas; na realidade ele é ainda mais completo, pois significa o princípio, o meio e o fim.
O monossílabo Om dá a chave da repetição hierárquica das funções entre Brahâtmâ e os seus dois assessores. Segundo a tradição hindu, os três elementos deste monossílabo sagrado simbolizam respectivamente os “três mundos”, os três termos de Tribhuvana: a Terra (Bhû), a Atmosfera (Bhuvas) e o Céu (Swar.), ou por outras palavras, o mundo da manifestação corporal, o mundo da manifestação subtil ou psíquica e o mundo primordial não manifesto. Estes são por ordem inversa, os domínios próprios de Mahanga, Mahâtma e Brahâtmâ.

Excerto resumido do capítulo V de “O Rei do Mundo”, 1958, René Guénon, Edições 70, Lisboa

“O Rei do Mundo” de René Guénon

Saint-Yves d’Alveydre numa obra póstuma publicada em 1910, referiu um misterioso centro iniciático, designado pelo nome de Agarttha. Em 1924, Ferdinand Ossendowski publicou um livro sobre as suas viagens através da Ásia Central, com relatos quase idênticos a Saint-Yves. Entre outras, realço as afirmações seguintes: a existência de um mundo subterrâneo com ramificações sob os continentes e os oceanos, pelos quais se estabelecem comunicações invisíveis entre todas as regiões da terra; a existência de momentos, durante a celebração subterrânea dos Mistérios Cósmicos, em que os viajantes que se encontram no deserto se detêm e até os próprios animais permanecem silenciosos; a história de uma ilha, já desaparecida, habitada por homens e animais extraordinários.
O título de “Rei do Mundo” aplica-se a Manu, o Legislador primordial e universal, cujo nome pode encontrar-se, sob diversas formas em povos antigos: Mina ou Ménès para os Egípcios, Menw para os Celtas e Minos para os Gregos. Manu não designa uma personagem histórica ou lendária, mas sim, um princípio, a Inteligência Cósmica que reflecte a Luz Espiritual pura e formula a Lei (Dharma) que regula as condições do nosso mundo e do nosso ciclo de existência. Ele é, ao mesmo tempo, o arquétipo do homem enquanto ser pensante (mânava).
Este princípio pode ser manifestado por um centro espiritual estabelecido no mundo terrestre, em que o chefe dessa organização representaria o próprio Manu, pelo grau de conhecimento atingido para poder exercer essa função. Ele seria a expressão humana do princípio face ao qual se anularia enquanto indivíduo. Tal será o caso de Agarttha, se este centro recebeu e preservou a herança da antiga “dinastia solar”.
Contudo Saint-Yves, não vê o chefe supremo de Agarttha como o “Rei do mundo”, mas antes como “Soberano Pontífice”. Ossendowski complementa que se trata de duplo poder, que é ao mesmo tempo, sacerdotal e real. O carácter “pontificial” é apanágio do chefe da hierarquia iniciática, que simbolicamente designa o que estabelece a comunicação entre este mundo e os mundos superiores.
Agarttha é o ponto fixo que todas as tradições concordam em designar simbolicamente como o “Pólo”, por ser sobre ele que se efectua a rotação do mundo, representado geralmente pela roda, quer para o Celtas, para os Caldeus e mesmo para os Hindus.
Este é o verdadeiro significado da suástica, símbolo divulgado por toda a parte, que na sua essência, representa “o signo do pólo”. Apesar da suástica poder ser um símbolo de movimento, não se trata de um movimento qualquer, mas de um movimento de rotação em torno de um centro imutável, e é ao ponto fixo, que se refere directamente este símbolo.
Na teoria da Cabala hebraica, os “intermediários celestes”, que se relacionam com este tema, são Shekinah e Metatron.
As passagens da escritura que se lhe referem são as que mencionam a instituição de um centro espiritual: a construção do Tabernáculo, a edificação dos Templos de Salomão e Zarobabel. Este centro constituído em condições regularmente definidas, era um lugar de manifestação divina, sempre representada como “Luz”.
Shekinah apresenta-se sob múltiplos aspectos, entre os quais, um interno e outro externo. Representado Gloria e Paz, no seu aspecto interno no que respeita ao princípio e no aspecto externo no que respeita ao mundo manifesto. Lembremos relativamente ao primeiro aspecto das teorias dos teólogos acerca da “luz da glória” na qual se opera a visão beatífica, e em relação ao segundo, do sentido esotérico da “paz”, referida por todas as tradições como sendo um dos atributos fundamentais dos centros espirituais estabelecido neste mundo.
Por outro lado, Vulliand fala de um “mistério relativo ao Jubileu”, que corresponde num dado sentido à ideia de “Paz”, de onde conclui que “ a ideia central do Jubileu é o regresso de todas as coisas ao seu estado primitivo”. O que está implicitamente presente em todas estas considerações, é o Pardes, o centro deste mundo, que o simbolismo tradicional compara ao coração, centro do ser e residência divina (Brahma-pura, na doutrina hindu), sendo o Tabernáculo uma imagem deste centro.
Noutra perspectiva, Shekinah é a síntese dos sefirotes, na árvore sefirótica, a “coluna da direita” está ao lado da Misericórdia e a “coluna de esquerda” ao lado do Rigor; numa dada perspectiva pode-se identificar a Misericórdia coma Paz e o Rigor com a Justiça.
“A Cabala dá a Shekinah um irmão gémeo”, chamado Metatron. Este “vocábulo comporta todas as acepções de guardião, Senhor, enviado, mediador”; ele é “o Anjo da Face” e também “o Príncipe do Mundo”. Metatron, além do aspecto da Clemência, comporta também o da Justiça; não é apenas o “Grande Sacerdote”, mas também o “Grande Príncipe” e “chefe das milícias celestes”, ou seja, não contém só o princípio do poder real, mas também o do poder sacerdotal ou pontifical.
De resto, Melek, “rei” e Maleak, “anjo” ou “enviado”, não são mais do que duas formas de uma só e mesma palavra. Embora Mikäel se identifique com Metatron, apenas representa um aspecto dele, à face iluminada corresponde uma face obscura, representada por Samaël.
Segundo Saint-Yves, o chefe supremo de Agarttha tem o título de Brahâtmâ ou Brahmâtmâ, “suporte das almas no Espírito de Deus”, sendo os seus dois assessores Mahâtmâ, “representante da Alma Universal” e Mahânga, “símbolo de toda a organização material do Cosmos”. Estas três identidades correspondem à divisão hierárquica que as doutrinas ocidentais representam pelo ternário “espírito, alma e corpo”. Estes termos sânscritos referem-se sempre a princípios e nunca a seres humanos ou indivíduos.
Para Ossendowski, o Mahâtmâ “conhece os acontecimentos do futuro”, o Mahânga “ dirige as causas desses acontecimentos” e Brahâtmâ “pode falar com Deus face a face”, pois ele ocupa o ponto central onde se estabelece a comunicação directa do mundo terrestre com os estados superiores e através destes com o Princípio Supremo.
“Quando sai do templo, O Rei do Mundo irradia a Luz Divina”, diz Ossendowski.

Resumo dos capítulos I a IV de “O Rei do Mundo”, 1958, René Guénon, Edições 70, Lisboa

A Chave da Teosofia - Resumo Secções I a V

A Sociedade Teosófica foi fundada em Nova Iorque, em 1875, sendo seus principais fundadores H.P. Blavatsky e H.S. Olcott.

A Teosofia é uma religião? Não, a Teosofia é o Conhecimento ou Ciência Divina.
Qual o verdadeiro significado do termo Teosofia? “Sabedoria Divina”, Theosophia.

Como se pode provar que todas as religiões do mundo se baseiam de facto na mesma verdade única? Pelo estudo comparativo e análise dessas religiões. “Todos os cultos antigos apontam para a existência de uma única teosofia que lhes é anterior. A chave capaz de abrir um deles terá de abrir todos os outros; de contrário não será a chave certa.” (Wilder).

Qual o motivo para ignorância no que respeita à Teosofia no mundo Ocidental? Podem existir várias explicações. Segundo S.Paulo, o facto do verdadeiro discernimento espiritual se ter perdido durante muitos séculos devido à grande dedicação às coisas dos sentidos e à sua longa escravidão aos dogmas e rituais. Mas o verdadeiro motivo é o facto da verdadeira Teosofia se ter mantido sempre secreta.

Qual a verdadeira causa deste sigilo? Primeiro, a perversidade e egoísmo da natureza humana, com a tendência para satisfazer sempre os seus desejos pessoais em detrimento do próximo. Nunca se poderia confiar segredos divinos a pessoas assim. Segundo, o facto de não se poder esperar que estas pessoas impedissem que o conhecimento sagrado e divino fosse profanado. Foi esta razão que fez com que as verdades e símbolos fossem pervertidos e que as coisas do espírito fossem transformadas em imagens antropomórficas, concretas e grosseiras, que a ideia de Deus fosse diminuída e surgisse a idolatria.

Aqueles que supuseram que a Teosofia era uma nova religião, procuraram em vão o seu credo e o seu ritual. O seu credo é o respeito pela Verdade e o seu ritual “Honrar toda a verdade pondo-a em prática”.
Os membros da Sociedade Teosófica têm inteira liberdade de professar qualquer religião ou filosofia, podendo até não professar nenhuma.

A Sociedade Teosófica não possui preceitos nem doutrinas próprias? Não, a Sociedade não defende nem ensina uma sabedoria sua. É apenas depositária de todas as verdades proferidas pelos grandes videntes, iniciados e profetas, ou pelo menos de todas as verdades que conseguiu recolher.

Mas a Teosofia não é uma religião? De forma alguma, pois a teosofia é a essência de todas as religiões e da verdade divina, sendo cada credo apenas uma pequena gota dessa mesma essência.
Os homens só poderão esperar alcançar a verdade se estudarem as várias grandes religiões e filosofias da humanidade, comparando-as objectivamente e com imparcialidade.

Os teósofos acreditam em Deus? Depende daquilo que entendermos por Deus. Não acreditamos no Deus da teologia com um reflexo do Homem.

Então os teósofos são ateus? Não, acreditamos num Princípio Divino Universal, origem de tudo, do qual tudo procede, e ao qual tudo retorna no fim do grande ciclo do Ser.
A nossa Divindade está em toda a parte, em cada átomo do Cosmo, visível e invisível, em, sobre e em redor de todos os átomos visíveis e moléculas divisíveis; pois Ela é força misteriosa da evolução e involução, a força criadora omnipresente, omnipotente e até omnisciente.

Os teósofos não acreditam na eficácia da oração? Da oração que se aprende e se repete, não, se por oração se entende um pedido dirigido a um Deus desconhecido.
Mas haverá outra espécie de oração? Sem dúvida, chamamos-lhe Oração da Vontade, que é mais uma ordem interior do que um pedido.
A quem dirigem a vossa oração? Ao”nosso pai do céu” no sentido esotérico da expressão. Este “Pai” está no próprio Homem e não é um Deus extracósmico e finito. Chamamos “nosso pai no céu” àquela essência divina que sentimos dentro de nós, no nosso coração e na nossa consciência espiritual.
A oração é antes um mistério, um processo oculto, mediante o qual pensamentos e desejos finitos e condicionados se traduzem em vontades espirituais e na vontade a em si, processo a que se dá o nome de “transmutação espiritual”. A “oração da vontade” torna-se uma força activa ou criadora que produz efeitos consoante os nossos desejos.

Como explicar o facto universal de todas as nações e povos terem adorado e rezado a um Deus ou Deuses?
A oração pode ter diversos significados, além daquele que lhes é atribuído pelos cristãos. A oração não é apenas uma súplica ou um pedido, antigamente era sobretudo uma invocação e um encantamento. O mantra, oração entoada ritmicamente pelos hindus, tem precisamente esse significado. Uma oração tanto pode ser um apelo ou um encantamento destinado a fins maléficos, como um pedido de bênçãos.
Como a grande maioria das pessoas é imensamente egoísta e reza apenas por si própria, em vez de trabalhar por isso, acontece que a oração, tal como é hoje entendida, é duplamente perniciosa: (a) porque destrói a confiança do Homem em si mesmo; (b) porque desenvolve nele um egoísmo e um egocentrismo ainda mais ferozes do que os inerentes à sua natureza.
Recusamo-nos a rezar a seres finitos criados, ou seja, deuses, Santos, anjos, etc., pois isso, na nossa opinião, não passa de idolatria. Tentamos substituir a nossa oração estéril e inútil por acções meritórias que produzam o bem.

Resumo das Secções I a V, de “A Chave da Teosofia”, 1889, Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891)

Theosophia / Teosofia

A próxima característica no desenvolvimento da humanidade será a evolução da natureza espiritual do Homem. Assim, esperamos para a civilização futura o advento da espiritualidade na religião, na ciência, na arte e na sociedade.
O que é a Teosofia?
Como o seu nome indica, a Teosofia estabelece como princípio que o Homem é de natureza divina e pode, por conseguinte, aprender a conhecer directamente Deus. É a proclamação da Gnose antiga contra o agnosticismo. Ela é um corpo de doutrinas que são comuns a todas as grandes religiões do mundo. É um conjunto de ensinamentos espirituais, universais, que tentam conduzir o Homem ao caminho e à perfeição, a guiá-lo na vida e iluminá-lo na morte. Os seus ritos, cerimónias ou ensinamentos espirituais podem ser encontrados em todos os cultos de todas as crenças.
Não incita ninguém ao abandono da sua religião para substituí-la por outra, mas sim, aconselha que se procure nessa religião as profundas verdades comuns a todas as confissões religiosas. Em vez de pregar a guerra nas questões religiosas, faz de tais questões elementos de harmonia, levantando o estandarte da paz e não o do combate.
Sabendo que a próxima civilização será espiritual e que a Teosofia terá nela um papel definido, e por crermos que no nascimento de cada nova civilização aparece um novo instrutor no mundo, esperamos também a manifestação de um grande Ser, de um Instrutor divino.
O seu primeiro trabalho consiste em proclamar a Fraternidade das Religiões, sem destruir nenhuma delas e sem diminuir o valor de nenhuma, mas esforçando-se por aproximá-las, por fazer cessar a rivalidade que as separa, tornando-se assim todas elas uma grande família, cujos membros não mais combaterão entre si.
As doutrinas da Teosofia não são numerosas, mas sim, de elevado alcance. A primeira grande doutrina ensinada por todas as religiões é a unidade de Deus; a segunda ensina que Deus é tríplice em sua manifestação.
A estas duas verdades junta-se a que concerne à vasta família dos Filhos de Deus, à grande hierarquia de inteligências espirituais, em cujo seio a humanidade encontra o seu campo de evolução. Chegamos à quarta doutrina, cuja expressão é: a evolução contínua da consciência em corpos que se vão tornando cada vez mais perfeitos e que permitem expressar os poderes da consciência – a este princípio chama-se Evolução ou Reencarnação.
Outra doutrina, é uma lei fundamental, que se aplica tanto ao espírito como à matéria, segundo a qual o carácter se pode construir, tal como o mundo exterior, para podermo-nos elevar a ideias mais nobres.
Finalmente, cremos que há Instrutores que dirigem a evolução da humanidade, inspiram as religiões e asseguram o progresso espiritual do Homem.
Estas são verdades universais, ensinamentos que sempre foram possuídos por todas as religiões e que ainda hoje as possuem.
Cristo recomendou: “amai os vossos inimigos” e seiscentos anos antes Budha disse: “o ódio não mata o ódio, só o amor mata o ódio”. (…)
Só crescem em espiritualidade aqueles a quem penaliza a desgraça dos mais necessitados, aqueles para quem um bom repasto é amargo enquanto houver famintos, aqueles para quem o luxo é um fardo enquanto existem homens que não possuem coisa nenhuma.
A alegria reside no facto de dar e não de receber.

Annie Besant, Resumo de conferência em Londres: O PAPEL DA THEOSOPHIA NA PRÓXIMA CIVILIZAÇÃO, 1911

Pensamento

“Será o pensamento do homem, um raio vivo, procedente de um fogo ainda mais vital que ele próprio?
"O homem acreditou-se mortal porque encontrou em si algo de mortal", mas será?
"O homem despreocupado e desatento atravessa este mundo sem abrir os olhos de seu espírito. As diferentes cenas da natureza sucedem-se diante dele sem que seu interesse se desperte e que seu pensamento se amplie. Só veio a este mundo para abarcar o universo com sua inteligência, e permite continuamente que sua inteligência seja absorvida pelos menores objectos que o cercam.
Será preciso que as catástrofes da natureza se repitam para despertar do seu torpor?"

Louis Claude de Saint Martin, O HOMEM DE DESEJO, 1790