Excertos de "A Cabala e a Tradição Judaica"

“Nós vivemos sobre a casca da realidade e mal sabemos atingir o coração” diz o Rabi Ben Jochai, porque “o segredo está no coração do aparente” e “o conhecido não é mais do que o aspecto aparente do desconhecido. É que nenhum facto do mundo está isolado do seu contexto universal. Nada cá em baixo tem um fim em si mesmo” (Zohar, III,128) e nós estamos inseridos num universo em patamares.
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O pecado do homem, todo o desvio da lei de Deus no seu comportamento, atrasam o desenvolvimento do plano da Providência e, logo, a Redenção do mundo. O corpo de um recém-nascido não está dotado de uma alma nova, mas de uma outra que já conheceu uma ou várias migrações terrestres e que deve reincarnar para sua salvação. Deste modo o homem pecador obsta a que uma alma “nova” possa incarnar, o que seria a ordem normal das coisas; impede as almas de virem ao mundo de acordo com o seu destino e retarda a manifestação da alma do Messias.
Quando uma alma, por qualquer razão, se esquece de cumprir uma acção no mundo, deve voltar à Terra, entrar em união estreita com uma outra alma já incarnada e reparar o seu erro.
O Messias só pode vir, quando todas as almas tiverem limpo as suas manchas e o bem estiver inteiramente separado do mal, e a verdade do erro.
Vê-se assim até onde pode ir a responsabilidade de cada um com respeito ao seu próximo, e mesmo no que diz respeito a todo o Universo.
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Há algo que só se pode encontrar num único sítio do mundo, e trata-se de um grande tesouro: podemos chamar-lhe a descoberta do sentido da existência. E o lugar onde podemos descobrir esse tesouro, é justamente no sítio onde nos encontramos.
A maior parte dos homens não se apercebem de que jamais tiveram a experiência de uma existência verdadeiramente realizada e que vivem, por assim dizer, à margem do essencial. Este essencial, nunca o procuramos no sítio onde o podemos de facto encontrar, isto é, no nosso próprio lugar. Ora, é precisamente aí, e em mais lado nenhum, que se encontra o tesouro. O meu ambiente natural, a situação que é providencialmente a minha, tudo o que me sucede dia após dia, designa a minha tarefa essencial e ensina-me, simultaneamente, onde se pode realizar a plenitude da minha existência.

Excertos de “A Cabala e a Tradição Judaica” de René de Tryon, Montalembert, Kurt Hruby, 1974, Edições 70